quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Poema de Arnaldo Antunes



Cego

Estou cego a todas as músicas,
Não ouvi mais o cantar da musa.
A dúvida cobriu a minha vida
Como o peito que me cobre a blusa.

Já a mim nenhuma cena soa
Nem o céu se me desabotoa.

A dúvida cobriu a minha vida
Como a língua cobre de saliva

Cada dente que sai da gengiva.

A dúvida cobriu a minha vida
Como o sangue cobre a carne crua,

Como a pele cobre a carne viva,

Como a roupa cobre a pele nua.

Estou cego a todas as músicas.

E se eu canto é como um som que sua.


Nenhum comentário:

Postar um comentário